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Capital

Sem assassino, MP pede fim de apuração sobre morte de guarda ligado à milícia

“Mataram meu filho duas vezes”, chegou a afirmar Terezinha, que perdeu Fred Brandão dos Reis em abril de 2019

Anahi Zurutuza | 18/06/2022 10:25
Arma que tirou a vida de Fred Brandão dos Reis, aos 38 anos (Foto: Reprodução dos autos)
Arma que tirou a vida de Fred Brandão dos Reis, aos 38 anos (Foto: Reprodução dos autos)

Sem conseguir chegar a um assassino ou mandante, o inquérito aberto para apurar a circunstâncias da morte do guarda municipal Fred Brandão dos Reis, de 38 anos, em abril de 2019, deve ser arquivado. A história, repleta de sinuosidades, começou a ser investigada como suicídio, envolvendo denúncia de estupro de adolescente, e emperrou na apuração da hipótese de “queima de arquivo” do GM, que teria ligação com a milícia comandada pela família Name.

Pedido de arquivamento foi feito pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) no dia 10 de junho e está sob análise do juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande.

Fred morreu com tiro na boca no dia 20 de abril de 2019. Naquela madrugada, por volta das 5h, as polícias Militar e Civil foram acionadas para ir a endereço no Jardim Alto São Francisco, em Campo Grande, onde um guarda municipal supostamente havia se suicidado.

Conforme relatado à polícia naquele dia, o servidor teria tirado a própria vida após estuprar uma menina de 12 anos com quem tinha grau de parentesco, crime que não foi confirmado depois, ao longo das investigações.

A cena do suicídio, com indícios de que poderia ter sido forjada, contradições nos depoimentos das duas últimas pessoas que estiveram com Fred e a descoberta de que ele tinha ligação com a família Name fizeram o inquérito parar nas mãos da força-tarefa responsável pela Omertà, a operação que tornou pública a existência de grupo de extermínio atuante em Mato Grosso do Sul.

Fred Brandão dos Reis uniformizado (Foto: Arquivo de família)
Fred Brandão dos Reis uniformizado (Foto: Arquivo de família)

Uma das evidências de que Fred não havia atirado em si mesmo estava nas mãos dele. Conforme laudo do IALF (Instituto de Análises Laboratoriais Forenses), de maio de 2019, “não foram detectados vestígios de chumbo” nos dedos do guarda municipal. O resíduo fica na pele de uma pessoa que atira.

Outra inconsistência foi constatada no exame de sexologia forense, feito na garota que teria sido estuprada por Fred. O laudo apontou que a menina não havia sofrido violência e que não houve “troca” de fluídos sexuais entre o guarda e a adolescente.

Por meses, os delegados Fábio Peró, João Paulo Sartori, Carlos Delano, Daniella Kades e Tiago Macedo comandaram as apurações em busca do assassino e do mandante da execução, mas não conseguiram chegar a uma conclusão. Num “beco sem saída”, encaminharam relatório do inquérito ao MP, em maio do ano passado. “Por todo o manancial probatório produzido por esta força-tarefa, não podemos negar ou afirmar a ocorrência de suicídio e tampouco de homicídio”.

Ao longo de pouco mais de um ano, o MPMS analisou as provas juntadas e decidiu pedir o encerramento do caso, a não ser que novas evidências surjam. Para os promotores Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, Luciana do Amaral Rabelo e Moisés Casarotto, por enquanto, há “apenas conjecturas” de que a morte de Fred foi determinada por organização criminosa.

“O arquivamento no presente feito se faz necessário, uma vez que a autoridade policial não conseguiu determinar a autoria delitiva e tampouco o Ministério Público vislumbra qualquer nova diligência capaz de obter êxito nesse sentido”, defende o MP no pedido.

Fim de um ciclo – Para a mãe do guarda municipal, embora não haja um desfecho, saber até onde a investigação chegou , foi um alívio. Dona Terezinha passou os últimos três anos lutando para “limpar” o nome do filho. Para ela, vê-lo acusado de estupro de vulnerável foi o pior. “Mataram meu filho duas vezes”.

Eu, como mãe, e a família do Fred entregamos para Deus, porque nós estamos com a cabeça mais tranquila, sabendo que a honra do meu filho está limpa. Ele não é estuprador e nem suicida. Ele foi assassinado, mas foi uma armação muito bem feita, tão bem feita que ficou muito difícil de descobrir quem fez essa maldade. No tempo certo, Deus vai mostrar”, disse Terezinha, sobre sempre ter tido convicção de que o filho era inocente.

A mãe, agora, espera viver para ver o assassino de Fred pagando pelo que ele fez. “Meu filho já morreu mesmo, está descansando, mas a consciência da pessoa que fez isso vai pesar um dia”.

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