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Em Pauta

Visitando uma aldeia guaicuru no início do século passado

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 23/04/2024 08:45
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Há poucos dias mostrei uma fotografia do Mato Grosso do Sul por volta do ano 1.900. Afirmei que era era um lugar desolado. A população era de tão somente 88.000 pessoas. Garanto que é uma lenda muito popular a crença de que estava ocupado por indígenas. Não estava. O que havia era tão somente animais e plantas por todos os lados. Visitemos hoje uma aldeia guaicuru. Eles e os paiaguás constituíam as maiores populações indígenas.


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Recebido com chimarrão.

Ao chegar na aldeia, "uma mulher ajudou a amarrar minha rede". Repousando nela, tomei o mate. Era o aperitivo para esperar o almoço. Uma bebida esverdeada e quentíssima. Aqui cai outra lenda, a de que todos os indígenas do Mato Grosso do Sul, bebiam tereré. Os guaicurus tomavam chimarrão. Mate frio, tereré, é bebida guarani.


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Chupando palmeiras:  O almoço.

Homens, mulheres e crianças estavam sentados ou acocorados. Alguns comiam arroz, outros carne, outros mel, mas todos chupavam as fibras dos troncos das palmeiras. Esses troncos haviam sido rachados no sentido de seu comprimento em diversos pedaços. Eram raspados nervosamente. Uns, com uma colher velha, outros, com a folha quebrada de um facão ou um pedaço de ferro. Tiravam um pequeno monte de fibras e enchiam a boca. Mastigavam até espremer todo o doce que continha. Logo, cuspiam o resto das fibras que ficara sem sumo. E recomeçavam com outra quantidade de fibras refrescantes. Terminaram o almoço tal como começaram: bebendo chimarrão.


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Dois grandes ranchos e dois pequenos.

A aldeia era constituída por um grande rancho, um ranchão, e, a uma dezena de metros dele, outro grande rancho, quatro a cinco vezes maior. Havia ainda mais dois outros ranchos menores. Era tudo! Eram construções rústicas, tinham paredes de aroeira de boa altura. O telhado era de duas águas, como todas as casas da cidade, e era coberto de capim, arrancado em um brejo próximo. O teto era bastante inclinado, caia a menos de um metro e meio do chão. Não tinha porta. O vão de passagem era de um metro. É estranho, os guaicurus são um povo alto. No chão havia um estrado. Sobre esse assoalho, estavam colocados couros de gado servindo como um tapete. Outros couros e trapos funcionavam como paredes internas, separavam dois ambientes. Redes estavam estendidas por todos os lados. Havia ainda, couros de veado pendurados. O cheiro desse couro impregnava tudo ao redor. Era insuportável para um branco. Os índios não pareciam incomodar-se com esse mal cheiro. Nesses dois ranchos alojavam-se todos os habitantes da aldeia. Contadas as crianças, eram pouco mais de vinte, entre sete e oito anos.


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A submissão das mulheres.

No total, contando as mocinhas, havia trinta e pouco mulheres. Quase todas se trajavam igualmente. Uma tanga feita com um metro e meio de pano. Eram enrolados da cintura até os joelhos. A parte superior do corpo ficava nu. Todas tinham o corpo pintado com tinta negra em fundo vermelho. Atribuam-lhes os trabalhos mais duros e meio penosos, "mais ou menos como escravas". Tinham uma "espécie de obrigação que as tradições da tribo mantinham em uso para perpetuar a submissão".

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