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Comportamento

Neto transforma tronco em Bugre, para cidade lembrar de Conceição

“Parece que ela está aqui junto comigo”, diz Mariano, neto de Conceição dos Bugres, sobre o trabalho

Aletheya Alves | 21/01/2022 10:25
Mariano transformando tronco de árvore em bugrinho da Conceição. (Foto: Fundação de Cultura)
Mariano transformando tronco de árvore em bugrinho da Conceição. (Foto: Fundação de Cultura)

“Essa noite não dormimos de tanta ansiedade, fiquei me revirando na cama”. Na manhã desta sexta-feira (21), o neto de Conceição dos Bugres, Mariano, e sua mãe, Sotera Sanches da Silva, acordaram para transformar um tronco em Bugrinho. Agora, a marca da avó terá uma versão na Rua 15 de Novembro, esquina com a Calógeras, no Centro da Capital.

Assim como Conceição transformava pedaços aleatórios de madeira em arte, Mariano Neto, aos 55 anos, conta que chegou sua vez de trazer a tradição para as ruas. “Eu fico muito alegre, parece que minha vó tá ali junto comigo enquanto eu faço. Atenta, olhando, vendo o que eu tô fazendo”.

Antes da intervenção de hoje, os bugrinhos esculpidos por Mariano ficaram restritos à sua casa.

Sotera e Mariano esculpindo madeira durante processo de criação. (Foto: Marcos Maluf)
Sotera e Mariano esculpindo madeira durante processo de criação. (Foto: Marcos Maluf)

Usando apenas um formão, ferramenta para moldar a madeira, marreta, facão e um serrote, o artesão transformou o tronco em poucas horas. Ele conta que a ideia inicial era começar os trabalhos antes mesmo do sol nascer, às 4h, mas acabou por esperar a luz do dia.

Quase escondido ao lado de uma banca de revistas, o tronco foi visto por Mariano e Sotera sem querer. A mãe explica que passou pelo endereço depois de tomar caldo de cana e quase não acreditou no que viu. “A gente sempre passa aqui, mas naquele dia, meu olho viu ele e pensei: ‘Que tronco bonito para fazer bugre’". Tinha um banco escorado nele, nem dava para ver direito”, conta.

Para fazer a arte, Mariano utilizando marreta e formão durante o processo. (Foto: Marcos Maluf)
Para fazer a arte, Mariano utilizando marreta e formão durante o processo. (Foto: Marcos Maluf)

Sem conseguir tirar a ideia da cabeça, ela procurou a Fundação de Cultura pedindo autorização e ontem, os dois receberam a notícia de que o tronco estava liberado. Emocionada, Sotera, que era nora de Conceição, disse que ao ver o filho entalhando a madeira, só consegue imaginar a artista.

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A avó dele deixou para o neto fazer isso. Minha sogra começou e agora, meu filho que tá fazendo. Para mim, representa que ela tá ali fazendo, agora, os outros vão admirar e conhecer", conta.

Com a camiseta molhada de suor, Mariano explica que todo o processo durante a transformação da arte traz um sentimento quase mágico. “Isso aqui, nesse tronco, é totalmente diferente. Ninguém faz isso aqui não. Quem ia adivinhar que eu ia fazer uma escultura aqui? Nem eu imaginava”.

Além de ficar orgulhoso da peça ao ar livre, o artesão conta que trazer a memória da avó para o meio das pessoas, de forma enraizada, é algo que ele desejava há algum tempo.

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Eu já pensava em algo assim que vinha no Centro e que alguma hora ia precisar fazer em um lugar enterrado. É mais seguro e ninguém vai tirar daqui", Mariano explica.

Coordenador do arquivo público estadual, Douglas Alves da Silva, de 38 anos, relata que intervenções como a de hoje têm se multiplicado pelo cenário campo-grandense.

“Tivemos o Campão Cultural com várias intervenções e hoje, estamos fazendo mais uma. Mariano e a mãe dele tiveram essa ideia de produzir aqui e é muito interessante, porque chama atenção também para a obra dele. Quando as pessoas notam essa arte aqui, elas vão querer consumir mais e é nos museus que vão encontrar”, Douglas diz.

Confira a finalização da escultura abaixo:

História - Com Conceição, os bugres surgiram depois de um sonho. A artesã contava que fez sua primeira escultura em uma mandioca e, com o passar do tempo, a arte passou a ser esculpida em madeiras que encontrava, com uso de cera de abelhas.

Além de estar presente em Mato Grosso do Sul, Conceição ganhou sua primeira exposição monográfica no MASP (Museu de Arte de São Paulo) em 2021. Os ingressos para visita seguem disponíveis até o dia 30 de janeiro deste ano.

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Tronco de árvore ao lado de banca na Rua 15 de Novembro. (Foto: Marcos Maluf)
Tronco de árvore ao lado de banca na Rua 15 de Novembro. (Foto: Marcos Maluf)


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