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Arquitetura

Resistente por 45 anos, casa histórica será hamburgueria na Afonso Pena

Residência da família Nachif foi negociada com o Grupo Madero, que vai trazer para a Capital o Jerônimo Burger

Thailla Torres | 12/01/2022 11:27
Casa será demolida em aproximadamente 20 dias e sumirá do cenário da Afonso Pena. (Foto: Henrique Kawaminami)
Casa será demolida em aproximadamente 20 dias e sumirá do cenário da Afonso Pena. (Foto: Henrique Kawaminami)

Por mais de quatro décadas, passar pela casa branca na Avenida Afonso Pena, esquina com a Rua Bahia, lembrou um pouco do cenário da cidade horizontal, basicamente formada por residências.

Mas agora, o lugar vai vender hambúrguer, porções, saladas, bebidas, sobremesas e milk shakes do Jerônimo Burger, restaurante do Grupo Madero, que já tem loja no Shopping Campo Grande.

E assim, a memória arquitetônica da cidade vai virando registro diante do “progresso”.

Confira a galeria de imagens:

  • No interior da residência, as vigas grossas ainda não foram demolidas. (Foto: Henrique Kawaminami)
  • Um dos quartos da residência. (Foto: Henrique Kawaminami)
  • Vitrais da casa histórica. (Foto: Henrique Kawaminami)
  • Cozinha tinha revestimentos com flores. (Foto: Henrique Kawaminami)
  • Casa na Afonso Pena é de 1977. (Foto: Henrique Kawaminami)
  • Detalhes dos azulejos do banheiro. (Foto: Henrique Kawaminami)
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O filho, advogado Leonardo Nachif, de 50 anos, lembra que em 2014 a mãe, Celina Nachif, fechou as portas da casa clássica, com aproximadamente 800 metros quadrados, de um tempo que nem muro precisava para garantir segurança na principal avenida da cidade.

Mas com os anos, as coisas foram mudando para ela e o marido Eduardo Nachif. Um dia, o casal foi acordado pela polícia, perguntando se a família estava de mudança, porque havia uma televisão entre outros aparelhos para fora de casa. Os ladrões tinham encontrado o endereço sem muros e entraram sem dificuldades

Mesmo assim, nenhum muro escondeu a casa, que durou 45 anos.

Tornou-se inviável viver no local, apesar do apelo histórico. “Só em IPTU e outras despesas de manutenção eram, pelo menos, 100 mil reais por ano”, lembra o filho.

Agora, o esquema será de parceria. “Eles não vão pagar um valor fixo de aluguel, será de acordo com a porcentagem das vendas”, diz o advogado sobre o sistema mais lucrativo para as duas partes.

O casal e os cinco filhos se mudaram em 1977, quando o asfalto terminava por ali, no cruzamento com a Bahia.

Do alto, casa já sem telhado, quebraram a sacada e retiraram algumas portas e janelas. (Foto: Eliane Zequini/Anos Dourados Campo Grande)
Do alto, casa já sem telhado, quebraram a sacada e retiraram algumas portas e janelas. (Foto: Eliane Zequini/Anos Dourados Campo Grande)

A casa, “inaugurada pela família com um Pai Nosso e uma Ave Maria”, também teve champanhe servida em copos de massa de tomate, como contou o Lado B em 27 de agosto de 2013, depois de entrevistar Dona Celina, que na matéria, já anunciava ter vendido a casa e que o novo endereço seria um apartamento na região do Parque dos Poderes.

Durante a entrevista, ela pareceu firme diante da decisão. “O resto é acessório. Nesta casa, eu já perdi um filho e o marido e perdi um pouco da minha vida também. Perder a casa não vai ser a pior perda, por isso, venho amadurecendo, a gente aprende a desapegar dos bens materiais. Essa casa não teve herança, não teve venda de imóvel, foi erguida só pelo trabalho, pelo sacrifício do Eduardo e ele tinha orgulho de ter construído isso sozinho. Hoje, eu te conto isso por amor à Afonso Pena, à minha casa e ao Eduardo”.

Em um dos quartos, ficou a foto do Luciano, o filho mais velho. (Foto: Henrique Kawaminami)
Em um dos quartos, ficou a foto do Luciano, o filho mais velho. (Foto: Henrique Kawaminami)

A casa faz parte do livro de arquitetura de Mato Grosso do Sul.

Sobre o sumiço do prédio histórico do cenário de Campo Grande, Leonardo destaca como um ciclo natural. “As lembranças ficam. Eu noto que as pessoas falam em preservar, em manter, mas meu pai morreu há anos, minha mãe se mudou e a gente fica com um imposto elevado para pagar anualmente. É fácil comentar que devemos manter, mas o bonito custa pelo menos R$ 100 mil ao ano”.

De acordo com o advogado, Leonardo Nachif, de 50 anos, a casa com aproximadamente 800 metros quadrados será toda demolida e o espaço alugado.

Sobre o que fica da residência, Leonardo diz que não vai se esquecer dos momentos em família. “Desde a construção, que meu pai batalhou muito, até todo o carinho e esforço que ele teve para agregar a família e manter a família unida ali. Acho que a melhor lembrança é mesmo a figura da nossa família”.

A rede de fast-food está prevista para ser inaugurada na segunda quinzena de maio deste ano.

Fachada da casa fotografada durante reportagem do Lado B em 2013. (Foto: Henrique Kawaminami)
Fachada da casa fotografada durante reportagem do Lado B em 2013. (Foto: Henrique Kawaminami)
Em 2013, Lado B entrevistou Celina, que na foto, também aparece em porta-retrato ao lado do marido. (Foto: Arquivo)
Em 2013, Lado B entrevistou Celina, que na foto, também aparece em porta-retrato ao lado do marido. (Foto: Arquivo)

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